quarta-feira, 10 de julho de 2019

Entre a luta e o preconceito

Jovem, negro e gay, Lucas Ibiapino relata um pouco de sua vida


João Pedro Nunes
Lucas Ibiapino


Nasci no dia 22 de dezembro de 1999 em Picos. Não lembro de muita coisa. Passei minha infância mudando de casa em casa. Pra uma criança isso não tem muita importância mas agora percebo quanto minhas memorias são uma bagunça.

Lembro de aos 4 anos morar no bairro canto da várzea e de ter coelhos, brincar de fazer comida e falar mal dos vizinhos com minhas irmãs ( uma garota especifica), os 6 anos morei em um prédio e me encantei por um vizinho do andar de cima.


arquivo pessoal

SAINDO DO ARMÁRIO

Eu me assumir aos 14 anos, meu pai foi o primeiro a saber e logo depois visitei minha mãe e contei que era gay, em relação ao meu pai foi um pouco estranho mas nada que eu não esperasse.

A reação da minha mãe foi querer me levar ao exorcista e logo depois apelou a psicologia mas como apenas tinha visitado ela para comunicar sobre minha orientação sexual, me assumir para ela e voltei pra minha casa.

Na escola meus colegas já praticavam a homofobia contra mim, mas como não tinha muito conhecimento da causa LGBT não importava tanto pra mim.

arquivo pessoal 









Desafios e superações

Bem, acho que um dos maiores desafios que eu passei foi pelo processo de auto-aceitação. Aconteceu antes que falasse pra algum de meus pais. Como venho de duas famílias religiosas, tanto a do meu pai, quanto da minha mãe, pode se presumir que fui criado dentro de uma igreja evangélica, o nome da minha igreja era Betesda. Odiei por muito tempo aquele lugar, lembro de chorar bastante por achar que meus desejos eram sinônimo de pecado. Oque pra uma criança de “sei lá” 2 anos era o fim do mundo, ( acho que por isso sempre fui muito fechado para com as pessoas ).
            
          Para superar tudo isso precisei de muito auto-conhecimento, desconstruir oque haviam posto em minha cabeça, sobre o que é, quem era Deus, e creio eu que o maior desafio foi passar por tudo isso sozinho, eu não tive apoio ou pelo menos alguém pra me dizer que tudo bem eu ser como era. Acho que por isso me tornei alguém que batalha pelo que deseja, afinal, foi assim desde muito cedo na minha vida. Com isso construí meu caráter e minhas novas crenças, que não exatamente indiquem que sigo alguma religião, mas isso me fez perceber quantas pessoas não têm apoio e que precisam disso.

Um outro desafio bem “chato” na minha vida foi a depressão, mas essa eu não tenho exatamente como superar, só como aprender a conviver com ela, as vezes e complicado mas eu sigo tentando. Aliás ela não tem nada haver com minha orientação sexual ou com o processo de saída do “armário”. Ela só faz parte de mim. É mais uma das muitas características da minha pessoa. 




domingo, 30 de junho de 2019

Patativa do Assaré: poeta, pobre e socialista


"A ideia que Patativa é um frustrado fala mais sobre quem opinou do que propriamente do poeta" afirma cordelista e neto do poeta

João Pedro Nunes

Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva) nasceu no sítio Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. Foi o segundo dos cinco filhos dos agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Com seis anos, perdeu a visão do olho direito em consequência do sarampo. Órfão de pai aos oito anos de idade teve que trabalhar no cultivo da terra, ao lado do irmão mais velho, para sustentar a família.

Com a idade de 12 anos, Patativa do Assaré frequentou uma escola durante quatro meses onde aprendeu um pouco da leitura e se tornou apaixonado pela poesia. Com 13 anos começou a fazer pequenos versos. Com 16 anos comprou uma viola e logo começou a fazer repentes com os motes que lhe eram apresentados.

Antônio Gonçalves mais conhecido como patativa do Assaré, apelido recebido através do jornalista cearense José Carvalho de Brito porque suas poesias eram comparadas a essa ave nativa da chapada do Araripe.


fonte: Google fotos 

 Daniel Gonçalves cordelista, poeta e neto do saudoso Patativa do Assaré respondeu algumas perguntas sobre a vida e obra do poeta.

O quê representa a pessoa de patativa pra você?



     Um homem simples, que apesar dos aspectos sociais e das dificuldades decorrente durante sua vida não deixou esmorecer nem desistir de seus ideais por um nordeste justo. Um homem que não se rendeu a propostas decorrentes fosse de origem política ou financeira. A pessoa do Patativa foi pra mim exemplo de pai, avô, irmão, tio e amigo.

Na sua visão o poeta ainda é pouco conhecido até mesmo por pessoas da cidade de Assaré?
     
Sim, uma parcela de culpa desse desconhecimento é a ignorância que parte maior da sociedade vive atualmente. Há um desinteresse por literatura de cordel e poesia, é mais cômodo acessar redes sociais e ler o que não possui conteúdos de critica ou defesa social.
O poeta sabia do desinteresse desde sua época, tanto que se tornou conhecido mundialmente para sua cidade voltar os olhos para ele, e não observar “O Patativa” como o Assareense que sabia rimas e sim um homem que tinha conhecimento e propriedade para defender suas causas.
      Contudo esses olhos de admiração ainda era um numero pequeno e atualmente não tem o reconhecimento merecido.

O que representa a obra do poeta pra você?
     
A linguagem de um povo que não possuía meios de se expressar, a linguagem de classes esquecidas como: “Sem terra, Analfabetos, Agricultores, Pobres”.
     Nesse meio de lutas em prol de sua gente como poeta eu admiro sua obra pela riqueza de rima e métrica, metáfora, gracejo, essas coisas que são essenciais para que haja poesia. Uma magia que encantou críticos literários e pessoas com certas limitações de conhecimento.

Podemos comparar Patativa do Assaré a Karl Marx?
    
 Veja só;  O que se entende por Marxismo é que as sociedades deveriam evoluir por meio de luta, partindo das classes sociais contra o estado, sendo que na época o estado existia pra proteger a classe dominante.
      É bem semelhante a vida do poeta Patativa, o contexto político era para defender os interesses políticos e elitista do governo brasileiro, tanto que na época era comum ouvir no nordeste o termo “Governar pra rico”. Um exemplo sobre a defesa da terra vemos no trecho...

“Se a terra foi Deus quem fez
Se é obra da criação
Deve cada camponês
Ter um pedaço de chão

Quando o agregado solta
O seu grito de revolta
Tem razão de reclamar
Não há maior padecer
Do que o camponês viver
Sem terra pra trabalhar”.



Poeta Daniel Gonçalves
Patativa foi chamado de frustrado por de defender um sistema diferente do atual, qual sua visão a respeito dessa afirmação?

A ideia que Patativa é um frustrado fala mais sobre quem opinou do que propriamente do poeta.
Se você achar que ele é um frustrado por não mudar o mundo, o mundo assim é o inteiramente frustrado.
Todos nós despertamos na ideologia de mudar nossos dias, nossas vidas e nossa sociedade, se você não pensa em evoluir o que está a sua volta e pensa em evoluir apenas a si, você é apenas um egoísta ambicioso.Lutar pelos ideais de um povo não é frustração.
Na década de 80 havia um projeto de construção de uma barragem para o abastecimento de água da cidade de Assaré que vivia a mercê dos carros pipas. Por intermédio do poeta Patativa essa obra saiu do papel e atualmente a cidade é abastecida de forma abundante.
Se toda cidade tivesse um "frustrado" com ideais semelhantes a esse o mundo seria significativamente melhor.








domingo, 9 de junho de 2019

“Belchior é uma voz contra o sistema” afirma professor da UESPI


   Belchior mudou o conceito de música no Brasil


João Pedro Nunes
           
          Antônio Carlos belchior, conhecido como Belchior, nasceu em Sobral norte do Ceará, oriundo de uma família pobre, tinha 23 irmãos. O mesmo ficou famoso depois de participar do festival universitário em 1971 e se sagrou vencedor com a canção “Na Hora do Almoço”.

Belchior morreu em 30 de abril de 2017, aos 70 anos, na cidade de Santa Cruz do Sul no estado do Rio Grande do Sul, vítima de um aneurisma da aorta, principal artéria do corpo humano. Para o Professor Dr. Harlon Homem de Lacerda da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) Belchior “é uma fonte de inspiração por ser cearense e sua luta contra a opressão capitalista e a industria cultural”.

fonte: arquivo pessoal


Questionado sobre a musica “ Na Hora do Almoço” e sua representação, o professor ressalta que a composição é um desabafo, um retrato da realidade de muitas famílias brasileiras, “é uma ideia de juventude, do nosso nordeste e do homem sertanejo”. O mesmo lembra ainda que já trabalhou composições do cantor em sala de aula na disciplina de literatura brasileira contemporânea na universidade.


fonte: o globo

Quando indagado sobre a música “Apenas Um Rapaz Latino Americano” o professor Harlon responde que a mesma é um grito contra o atual sistema virgente na nossa sociedade e a ideia de latinamericanidade e da proibição e censura contra o povo nordestino. Até os dias de hoje as canções do cantor tocam pessoas de todas as idades com suas letras que transparecem poesia, povo, nordeste, Brasil.

Link para as músicas “NA HORA DO ALMOÇO” e “APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO”.












quarta-feira, 29 de maio de 2019

Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, a Canudos cearense

 Comunidade localizada no interior do Ceará guarda uma história de luta e sofrimento em busca de um sonho.
Sítio Caldeirão 

 Fundado pelo beato José Lourenço oriundo do estado da Paraíba, veio ao cariri cearense atraído pelo "milagre de juazeiro" onde uma ostra teria virado sangue na boca da beata Maria de Araújo, chegando em Juazeiro do norte zé lourenço como era conhecido teve um encontro com o Padre Cicero Romão Batista atual pároco da cidade.

  Depois de receber um conselho do "Padim Ciço" ele arrenda terras no sítio Baixa Dantas, localizado na zona rural da cidade do crato. 
Em 1914, houve uma revolta entre as cidades de Juazeiro e Fortaleza revolta essa que ficou conhecida como sedição de Juazeiro.

    O beato Jose Lourenço não entrou nos combates. Mas o exército do governo passou pelo sítio e fez destruições que acabaram danificando a comunidade. Quando a guerra terminou, o beato retornou para o sítio e recomeçou tudo. Em 1926, o padre cicero mandou o Beato juntar as famílias para ocupar as terras do Sítio Caldeirão. Essas terras de propriedade do "Padim Ciço", fica na Serra do Araripe no município do Crato. Era chamado de Caldeirão, devido a grande concentração de pedras que conservava água até na época da seca.

    A comunidade do caldeirão da santa cruz do deserto era formada por grupos excluídos da sociedade como agricultores sem terra, retirantes, flagelados da seca e trabalhadores. Na comunidade as tarefas eram divididas igualmente entre todos, no sitio tinha escola para os mais novos tendo em vista que a alfabetização era uma preocupação do beato zé lourenço para com as pessoas da comunidade.


Beato José Lourenço com dois seguidores
      Outro fator importante é que todos tinham acesso aos bens da comunidade, a produção era de todos e repartida de acordo com a necessidade de cada um igualmente para todos. Em pouco tempo o trabalho de tantos agricultores conseguiu transformar o sítio caldeirão em uma terra muito produtiva no sertão do cariri. Lá também os moradores produziam as ferramentas de trabalho, roupas e calçados. 

Flagelados da comunidade

     Os políticos e donos da terra não viam com bons olhos a concentração de trabalhadores na comunidade, que além de não pagarem tributos, dificultava a mão de obra barata nos grandes latifúndios da região. Em 1937, acusados de comunistas e sem a proteção de Padre Cícero , que falecera em 1934,a fazenda foi invadida , destruída e os moradores divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova tentativa de resistência,a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu o grande massacre, com o número oficial de 400 mortos. Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Policia Militar do Ceará. Onde ficou marcado o primeiro ataque aéreo da história do Brasileira.  











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Entre a luta e o preconceito

Jovem, negro e gay, Lucas Ibiapino relata um pouco de sua vida João Pedro Nunes Lucas Ibiapino Nasci no dia 22 de dezembro de...