Jovem, negro e gay, Lucas Ibiapino relata um pouco de sua
vida
João Pedro Nunes
Lucas Ibiapino
Nasci
no dia 22 de dezembro de 1999 em Picos. Não lembro de muita coisa. Passei minha
infância mudando de casa em casa. Pra uma criança isso não tem muita importância
mas agora percebo quanto minhas memorias são uma bagunça.
Lembro
de aos 4 anos morar no bairro canto da várzea e de ter coelhos, brincar de
fazer comida e falar mal dos vizinhos com minhas irmãs ( uma garota
especifica), os 6 anos morei em um prédio e me encantei por um vizinho do andar
de cima.
arquivo pessoal |
SAINDO DO ARMÁRIO
Eu
me assumir aos 14 anos, meu pai foi o primeiro a saber e logo depois visitei
minha mãe e contei que era gay, em relação ao meu pai foi um pouco estranho mas
nada que eu não esperasse.
A
reação da minha mãe foi querer me levar ao exorcista e logo depois apelou a
psicologia mas como apenas tinha visitado ela para comunicar sobre minha
orientação sexual, me assumir para ela e voltei pra minha casa.
Na
escola meus colegas já praticavam a homofobia contra mim, mas como não tinha
muito conhecimento da causa LGBT não importava tanto pra mim.
arquivo pessoal |
Desafios e superações
Bem,
acho que um dos maiores desafios que eu passei foi pelo processo de
auto-aceitação. Aconteceu antes que falasse pra algum de meus pais. Como venho
de duas famílias religiosas, tanto a do meu pai, quanto da minha mãe, pode se
presumir que fui criado dentro de uma igreja evangélica, o nome da minha igreja
era Betesda. Odiei por muito tempo aquele lugar, lembro de chorar bastante por
achar que meus desejos eram sinônimo de pecado. Oque pra uma criança de “sei lá”
2 anos era o fim do mundo, ( acho que por isso sempre fui muito fechado para com
as pessoas ).
Para superar tudo isso precisei de muito auto-conhecimento,
desconstruir oque haviam posto em minha cabeça, sobre o que é, quem era Deus, e
creio eu que o maior desafio foi passar por tudo isso sozinho, eu não tive
apoio ou pelo menos alguém pra me dizer que tudo bem eu ser como era. Acho que
por isso me tornei alguém que batalha pelo que deseja, afinal, foi assim desde
muito cedo na minha vida. Com isso construí meu caráter e minhas novas crenças,
que não exatamente indiquem que sigo alguma religião, mas isso me fez perceber
quantas pessoas não têm apoio e que precisam disso.
Um outro
desafio bem “chato” na minha vida foi a depressão, mas essa eu não tenho
exatamente como superar, só como aprender a conviver com ela, as vezes e
complicado mas eu sigo tentando. Aliás ela não tem nada haver com minha
orientação sexual ou com o processo de saída do “armário”. Ela só faz parte de
mim. É mais uma das muitas características da minha pessoa.